How it ends





Now you've seen his face.
And you know that there's a place,
In the sun,
For all that you've done,
For you and your children.
No longer shall you need.
You always wanted to believe,
Just ask and you'll receive,
Beyond your wildest dreams.






Téo é um estudante de medicina que não se encaixa muito bem no rol dos considerados normais. Ele não gosta de pessoas e o máximo de proximidade que mantém com a mãe guarda mais contornos de obrigação e impaciência que de carinho. Tudo muda, no entanto, quando conhece Clarice, uma estudante de História da Arte, cuja paixão está mesmo em escrever roteiros de cinema.

A impressão aparentemente insossa deixada por Clarice é, em pouco tempo, substituída por uma fixação doentia e Téo se vê às voltas com um sentimento novo que, na sua cabeça, é capaz de justificar as maiores atrocidades. É a partir do momento em que ele entra de vez na vida de Clarice que a “correria” do livro tem início.

O ritmo das primeiras 100 páginas é vertiginoso. Os diálogos são precisos e quase sempre curtos. Os tons das cenas são pintados por uma terceira pessoa, que faz as vezes de cicerone da mente perturbada de Téo. É difícil não se sentir preso à história, não sentir aquele necessidade de terminar só mais um capítulo, entender qual nova maluquice o estudante tentará justificar para manter Clarice junto dele.

Mas... nem tudo são flores.

Alguns aspectos me incomodaram um pouco. O primeiro deles é um efeito colateral do ritmo que o autor atribuiu à história: alguma reviravoltas são muito bem recebidas e servem ao propósito de oxigenar a narrativa, mas a utilização reiterada do recurso termina fragilizando o enredo. Como se a obra, sem essas múltiplas “viradas de mesa”, não tivesse força o suficiente para prender a atenção do leitor.

Também o final me incomodou um pouco. Não a proposta. A ideia como um todo me pareceu excelente. O grande problema foi, de novo, a pressa com que Raphael nos conduziu até ela. A partir de um dado momento é como se o fio da narrativa seguisse aos saltos e precisássemos engolir de uma só vez o final. Tivesse a oportunidade de conversar com o autor, diria algo como: "Veja, você foi bem até aqui. Mas eu preciso comprar essa sua ideia pro desfecho. Pode gastar mais um punhado de páginas, não faz mal."

Poucos livros têm sido mais comentados nos últimos meses do que Dias perfeitos e não se pode, de forma alguma, tirar seu mérito. A obra é pungente e, em geral, muito bem construída. (Algumas descrições são tão bem estruturadas que é impossível não sentir extrema aversão à conduta da personagem ou à situação em si)

Raphael também ganha pontos por rejeitar o lugar comum e realizar uma incursão constante na mente perversa de Téo. Esse, aliás, me pareceu o grande trunfo do livro: o recorrente retorno aos olhos de Téo, que mantém até o final seu modo distorcido de enxergar a vida e, sobretudo, sua relação com os que o cercam.

Enquanto lia o livro a música de DeVotchKa - que tá no link lá em cima - vinha constantemente à cabeça, principalmente pela atmosfera de tensão crescente. Mas ao contrário do que diz a música (Yeah, you already know / How this will end), nesse caso não se poderia adivinhar o final da história de amor de Téo e Clarice.

“Apenas por curiosidade, abriu o Photoshop. Selecionou fotos suas e, entre recortes e colagens, criou novos momentos: os dois abraçando a árvore, os dois caminhando pelo jardim, os dois sentados no banco de madeira. Numa montagem mais ousada – e quase perfeita – colocou Clarice com a cabeça deitada em seu colo, o lago com chafariz ao fundo. Ela sorria e parecia gostar do cafuné que recebia nos cabelos.” (p. 57)

“Ele gostava dela – amava – e precisava sentir isso em todos os momentos, mesmo que ela estivesse doente, imunda ou o que quer que fosse.” (p. 212)




Dias perfeitos – Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras

Número de páginas: 274

18 comentários:

  1. Olá, Renato! Resolvi dar uma passada aqui pelo seu blog. Gostei de "Dias Perfeitos", achei que respondeu bem ao que o autor se propôs (pelo menos, tive essa impressão). A narrativa não é complexa, mas não deixa de ser boa por causa disso. Quanto ao final, achei que Raphael soube quando parar. Apesar de você entender que as páginas finais não foram suficientes para o desfecho, achei que esta escassez foi proposital. Entendi que o Raphael quis dar um final súbito e abrupto à história justamente para dar um soco no estômago do leitor.

    Suas críticas são muito pertinentes! Parabéns pelo blog!

    Até! =)

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    1. Thais, muito feliz por tê-la aqui.
      Sabe, você é a segunda pessoa que me diz que achou a escassez do final proposital. Começo a pensar na hipótese de reler o livro para ver se confirmo a minha perspectiva inicial ou se algo me escapou.
      Volte quantas vezes quiser: será sempre muito bem-vinda!

      Abraço!

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  2. Oi, Renato! Gostei bastante da sua resenha. Confesso que não tenho o hábito de ler livros do gênero de Dias perfeitos, portanto não senti como você essa questão do ritmo da narrativa. Na verdade, achei bem envolvente e concluí a leitura rapidamente, tamanha minha curiosidade para o final.
    Também fiz uma resenha dele, se quiser conferir, segue o link:

    http://www.universodosleitores.com/2014/04/dias-perfeitos-de-raphael-montes.html

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    1. Angélica, fiquei muito feliz com sua visita e com sua opinião positiva sobre a resenha!
      Está, desde já, convidada a voltar tantas outras vezes. Será sempre um prazer tê-la por aqui.
      Abraço!

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  3. Há algum tempo, acompanho - ainda que de longe e por meio do grupo de leitura à que fazíamos parte - o brilhantismo de Raphael Montes. Ele, sempre curioso, emergia ao debate quando o assunto era "Romance Policial". Desde sempre, senti que havia algo de intimidador naquelas indagações, como se as suas aflições tivessem voz - mais voz do que as perguntas que, aparentemente, ele fazia.

    E aí veio Suicidas. E eu entendi um pouco mais sobre todo o arquétipo que ele concebia; fui-me inebriando com suas palavras e, mesmo que não quisesse, estava desmedidamente dependente de sua narrativa...

    Acompanhei, pelo facebook - assim como milhões de fãs -, a criação de o romance "Dias Perfeitos". Aos poucos, à medida que Montes divulgava trechos na internet, eu ia me sufocando com a relação entre Téo e Clarice. Não obstante a ter pensado em se tratar de um romance tradicional, sempre suspeitei que seria surpreendida.

    Até o momento em que tive, finalmente, coragem para comprar o exemplar - porque sabia que o efeito de catarse poderia ser invariavelmente arrebatador. Li, conjuntamente a um amigo, e, claro, desde o primeiro momento, gostei de Téo: vegetariano, introspectivo, um verdadeiro nerd. Era como se me desnudassem perante tudo. Mas, com o desenrolar da história, vi que, realmente, Téo era mais do que obcecado - ele precisava possuir. E Clarice foi um dos meios para materializar a obsessão de Téo.

    Li o livro em poucas horas - mas o sentimento que adveio, posteriormente à leitura, continua dentro de mim, intensamente.

    A imagem de Sansão, de Dona Patrícia, dos pais de Clarice e de Gertrudes gozam de marcas em meu ser.

    A narrativa, concordo, foi apressada para encontrar um desfecho; e, o final, demasiado inesperado. Fez-me, na verdade, reconsiderar a condição de D. Patrícia, como se não fosse, Téo, o seu responsável. Penso que tornar o amante dependente do outro é a maior forma de obsessão e de força possível.

    No fim, a narrativa retrata uma força que, somente até então, evaporava por meio de um vulcão; e, agora que está pronta, vai se esgueirar pelos cantos da mente dos leitores, fazendo-o questionar, até mesmo, os relacionamentos em que estão amarrados.

    Amar, decerto, torna-se uma conquista; e aqui a indagação é: até que limite você queria para se apossar de um outro coração?

    Em suma: eu adorei o livro - e a catarse subseqüente, que me deixou pesadelos por alguns dias. Pensava nos personagens, pensava no autor... E só desejava mais páginas. O final abrupto, para mim, revelou como as coisas aconteceram para Clarice, que também não pôde se habituar à sua nova condição... Sentimos o mesmo que ela; e, no final, nos acostumamos... ;)

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    1. Roberta, fiquei muito (muito) feliz com seu comentário. Principalmente por sua perspectiva ser muito mais apaixonada do que a minha poderia ter sido, já que conheci Raphael só agora.

      Compartilho com você algumas impressões: (i) de fato, tonar alguém dependente é o maior grau de obsessão que consigo imaginar - logo Téo, que, de início, viu-se tão encantado com o jeito leve de Clarice; (ii) o sentimento que fica é, realmente, de posse: não existe em momento nenhum o que de bonito deveria existir num relacionamento: o que Téo busca é se apoderar do coração de Clarice. Não sei se você pensa como eu, mas a simples intenção de fazer isso já não é legítima pra mim, portanto, o limite já teria se rompido na partida.

      Adorei a perspectiva que você deu para o final. Como se ele fosse intencionalmente ligeiro para nos dar a sensação que, eventualmente, Clarice estivesse sentindo. Confesso que ainda não consigo ter uma opinião formada a esse respeito, mas essa ideia faz um pouco de sentido pra mim: inclusive estaria em harmonia com a perda de memória dela. Quer dizer, as lacunas poderiam ser vistas, analogamente, como os vazios carentes de preenchimento na memória de Clarice depois do acidente.

      Como disse, preciso amadurecer essa ideia, mas achei esse ponto de vista realmente interessante.

      Certamente vou correr atrás de 'Suicidas'. Raphael merece ser lido com entusiasmo.

      De novo, Roberta: obrigado pelo seu carinho. Gostei muito de tê-la no blog, mais ainda dessa troca de ideias. Estou tentando fazer daquele espaço um lugar onde seja possível justamente isso: trocar ideias. E pretendo fazer das atualizações algo permanente. O convite que fiz, então, faço de novo: volte quando quiser. Será sempre muito bem-vinda.

      Abraço

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  4. Oi, Renato!
    Eu gostei de Dias Perfeitos, mas não achei TUDO aquilo que estava sendo falado. Achei, sim, bem perturbador e agoniante, eu consegui sofrer muito junto com a Clarice e sentir seus medos, suas dores, sua agonia... Uma cena específica teve um pacto muito grande em mim e me fez sentir mal, mas felizmente consegui terminar o livro. Eu gostei da narrativa do Raphael, de como ele não tinha medo de ser detalhista e de como foi bem real, mas algumas coisas fizeram o livro não ser perfeito para mim, por exemplo algumas partes clichês de romances como esse. O problema não era o clichê em sim, mas que ele não inovou no clichê, não sei se deu para entender, haha. Não gostei do final e nunca vou gostar dele. Não achei justo e me deu muita revolta. E concordo, não teve um desenrolar muito verídico, não teve espaço para que aquilo acontecesse. Não sei explicar direito, mas achei que o autor exagerou nesse final (e aí vem o clichê de novo). Tirando essas partes, achei o livro muito bem escrito e a história bem construída, mesmo que o autor pecasse um pouco em alguns momentos "Sai dessa", como diria Paul Sheldon (personagem do Stephen King).
    Gostei bastante das suas impressões sobre o livro, foram bem parecidas com as minhas.

    Um abraço!
    http://lereaminhapraia.blogspot.com.br/

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    1. Olá, Tayane, que bom tê-la por aqui.
      Também senti um aflito enorme numa determinada cena (já quase no final do livro). Será que foi a mesma? ;D
      Eu gostei do final justamente porque ele rejeitou aquele lugar-comum que seria esperado depois do desenrolar do livro. (E não sei se você se surpreendeu com a reação da mãe de Clarice. Honestamente, não esperava aquilo vindo dela. E fico me perguntando até agora se ela é mesmo ingênua a ponto de acreditar em toda a história contada por Téo, o que seria uma decepção; ou se ela tinha um lado sombrio o suficiente pra fingir que engolia a versão dele, o que seria perturbador demais).
      Fiquei muito feliz com seu comentário. De verdade.
      Volte quando quiser: será sempre muito bem-vinda!
      Abraço

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    2. COMENTÁRIO COM SPOILERS!

      Bom, já que avisei, posso falar, haha. A cena que me deixou muito aflita foi quando a Clarice tentou se afogar e depois o Téo detonou a coluna dela para que ela não andasse e precisasse dele pra sempre. Sério, a descrição da cena baixou minha pressão, haha. Também fiquei cismada com a mãe da Clarice, não sei bem o que pensar dela. Mas acho que, mesmo acreditando no que ele disse, ela não queria prejudicar a filha, por isso aceitou tudo. Eu tenho certos problemas com histórias que terminam com a pessoa perdendo a memória, me dá muita raiva, ainda mais que ela não se lembrava das atrocidades que ele tinha feito com ela (e também me deu muita raiva quando ele tentou virar a vítima da história, quando ela conseguiu ficar no lugar dele). Acho que eu preferia, mesmo que ela tivesse perdido a memória, que ele tivesse fugido, do que ter conseguido ficar com ela. Mas enfim, cada um tem uma opinião.
      Vou voltar mais vezes sim! :D

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    3. Foi exatamente essa cena que deu uma agonia terrível. No final do parágrafo anotei algo como 'MeuDeus!'

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  5. Oi Renato!

    Conheci o Raphael através da sinopse de "Suicidas", embora eu só o esteja lendo depois de "Dias perfeitos"...

    O que mais me agradou foi a constante sensação de perplexidade que eu tinha ao ler cada ato do Téo. Ao contrário de muitos livros do estilo, este não possui, ao meu ver, um clímax. As constantes reviravoltas, tão inesperadas - por exemplo, SPOILER, a morte do Breno - e o terror psicológico fazem com que o livro seja impossível de ser largado de lado. Eu não sosseguei enquanto não acabei de ler.

    Outro aspecto sensacional é o uso de um certo "machadianismo", que nos deixa em dúvida se a Clarice realmente esqueceu tudo ou se é mais uma das manipulações dela... O final do livro, com a sugestão do nome para a criança, é magnífico, pois ela coloca na cabeça do Téo (e na nossa também) essa dúvida e quase uma ameaça velada (do tipo: eu sei o que você fez).

    Agora estou lendo "Suicidas" e devo confessar: até a página 280 está sensacional. Acho que acabo de ler ainda hoje.

    Que o Raphael continue nos presenteando com boas obras no gênero policial, que eu gosto muito, mas que deixa a desejar, especialmente no cenário nacional.

    Abraço!

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  6. Thais, feliz por tê-la aqui!
    Quando Breno apareceu na porta do quarto deles eu acho que devo ter prendido a respiração. Dava pra tocar a tensão da cena!
    E com relação ao final também tivemos uma impressão parecida! Até que ponto Clarice não se recordava do que havia acontecido? Será que isso foi só um fragmento que resistiu na memória dela ou foi uma ameaça velada? Confesso que, no fim das contas, acho muito difícil que ela o ameaçava com isso. Não consigo imaginar como seria para ela viver com Téo se realmente lembrasse de tudo.

    E estou curioso demais pra ler Suicidas! Já ouvi, mais de uma vez por sinal, que era ainda melhor que 'Dias Perfeitos'. Você teve essa impressão?

    Abraço!

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  7. Correndo o risco de ser "apedrejada", tenho que confessar que esse livro não me agradou muito.
    Quando fui ler a resenha dele no Skoob, antes de ler, quase todas começavam com "Perturbador". E sabe, eu não fiquei perturbada.
    Claro que não achei normais as coisas que ele fez com a Clarice, mas já vi/li/assisti tanta coisa ruim por aí, que não foi nada que tenha me deixado perturbada.
    Também acho que as coisas aconteceram meio rápido demais no começo do livro, sem ser possível conhecer direito e se envolver mais com os personagens antes da história principal começar de fato.

    *********************SPOILER**********************
    Antes que o Teo deixasse a Clarice paraplégica eu já desconfiava que isso ia acontecer, pelo fato dele saber como fazer isso e por sempre querer cuidar dela e não se importar em dar comida na boca, dar banho nela e essas coisas, assim como fazia com a mãe, que estava na mesma condição. Não sabia exatamente como ele iria fazer isso, mas acompanhando os pensamentos dele, achei que poderia vir a acontecer.
    *****************************************************

    Gostei muito da sua resenha e concordei com alguns pontos que você disse, principalmente sobre o final. Voltarei mais vezes aqui!

    Até :D

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  8. Juliana, tenho certeza que o risco do apedrejamento você não corre: começo a desconfiar que esse livro de Raphael comporta todas as opiniões que sejam possíveis. De certa forma, é como se a decisão final (da aceitação ou não) das escolhas feitas por ele coubesse sempre ao leitor - e não houvesse uma resposta definitiva sobre a questão. Veja, por exemplo, a discussão que tem borbulhado sobre o final (abrupto ou não). O meu ponto de vista consegue respaldo porque, aparentemente, as coisas foram rápidas demais nas últimas vinte páginas. Já para os que o defendem, os espaços em branco deixados por ele foram propositais e conseguem ser preenchidos, em maior ou menor medida, pelas atitudes de Téo ao longo do livro e os reflexos que elas seriam capazes de gerar no futuro. Então acho que a sua impressão - de que o livro não foi tão perturbador assim - também encontra ressonância. Digo isso porque, se pararmos pra pensar de fato existem coisas muito além do que Téo fez para Clarice. O que, na minha opinião, deu contornos tão absurdos a essas atitudes foi, justamente, aquilo que você se incomodou: a rapidez dos acontecimentos. A cena da agressão com o livro, que surgiu do nada (já que até ali não sabíamos até onde ele estava disposto a ir), a frieza de escondê-la embaixo da própria cama dopada… Esse conjunto de inconsequências foram determinantes pra dar esse tom perturbador. Essa proposta dele eu consegui comprar, diferente de algumas outras escolhas.

    Confesso que não tinha antecipado a crueldade de deixar Clarice paraplégica. Mas desconfio que, mesmo que tivesse conseguido isso, a descrição dele ainda seria indigesta. Provavelmente pelo uso da expressão "fatiar a coluna de Clarice".

    Fico muito feliz que você tenha gostado, Juliana. Será sempre bem-vinda, esteja certa! Gostei demais de ler suas impressões!

    Abraço (e até)!

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  9. Oi, Renato!
    Depois que você comentou lá no blog, vim aqui dar uma olhadinha na sua opinião sobre o livro.
    Eu acho que o ritmo funcionou ao longo do livro. Ele conseguiu prender a atenção de uma forma interessante e angustiante, então curti os cliffhangers que foram sendo deixados ao longo dos capítulos, afinal, é basicamente isso que os autores de suspense/thrillers costumam fazer.
    SPOILER -
    Meu probleminha foi mais em relação ao final mesmo. E deixando de lado a questão de ser injusto ou apressado ou mesmo de não curtirmos certos finais por gosto pessoal, simplesmente achei tudo muito improvável, então ficou aquela sensação de algo forçado. Não curto quando muitas coisas circunstanciais precisam contribuir harmoniosamente para o desfecho funcionar, pois fica aquele negócio do tipo "reviravolta pra chocar, por mais improvável que seja".
    Perder a memória é um grande clichê de livros e, convenhamos, foi muita sorte para o Téo, né? Além disso, precisamos deixar de lado os rastros que a polícia podia facilmente continuar seguindo, afinal, estamos falando de um caso de assassinato. Não sei, mas me parece provável que a polícia cavasse mais por ali. Além do fato de todo mundo aceitar a palavra do Téo como verdade absoluta, por mais suspeito que fosse. Tirando tudo isso, fiquei encucada com os procedimentos cirúrgicos e aí não posso afirmar, pois não sou médica, mas a equipe não teria percebido que havia ali algo proposital e costurado previamente? Ainda que machucado pela batida. E caso não, os posteriores especialistas que ela consultou não teriam como diferenciar um acidente de algo feito com um bisturi? E mesmo que tudo isso seja possível, permanece o que mencionei acima: a necessidade de muitos acontecimentos fortuitos para dar uma mãozinha ao Téo e ajudá-lo com o seu final feliz.
    No mais, reconheço os méritos do Raphael. Especialmente no desenvolvimento psicológico da mente doentia do personagem.
    Abraços!

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    1. Duda!, muito feliz por tê-la aquí. De verdade. Admiro muito seu trabalho no blog não é de hoje.
      Eu entendo sua impressão, mas não penso da mesma forma. Deixa ver se eu consigo explicar. Pra mim existe um ponto crucial no final do livro que legitima a opção de Raphael: a posição tomada pela mãe de Clarice. Inclusive é algo que me inquieta um pouco (acho até que já falei num dos comentários anteriores), o tamanho da importância dela nesse final da história. Ao longo do livro a gente fica sabendo, por inferências e um ou dois punhados de diálogo que Helena via com bom os olhos o súbito interesse da filha por Téo. Depois do acidente, quando Téo finalmente encontra com ela as cartas começam a ser postas na mesa, mas aí entra a questão: até que ponto a gente pode entender o que se passa na cabeça dela enquanto mãe? A impressão que nós temos, pelos olhos de Téo, é de que ela comprou a história e começou a mexer os pauzinhos pra dar contornos de verdade à versão da viagem que ele contou à polícia. Essa é a saída mais simples. Lembra que ela falou algo que não queria ver a família metida em escândalo e por isso alterou os registro de saída de Téo e Clarice no hotel? Cortando esse registro do contato entre Breno e Téo as coisas se perdem, realmente. Porque veja, todos os rastros que a polícia poderia encontrar em seguida representam, quando muito, provas de que um casal de namorados esteve no ponto A ou B. A pergunta que fica por trás (e que me inquieta bastante), no entanto, é: será que ela é mesmo ingênua a ponto de acreditar em toda a história contada por Téo?; ou se ela tinha um lado sombrio o suficiente pra fingir que engolia a versão dele em nome da reputação da família?
      Acho que é isso. Novamente, Duda: muito feliz por tê-la aqui. Volte quando quiser: será sempre bem-vinda!
      Abraço!

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    2. Oi, Renato,
      Obrigada pelas boas-vindas haha
      Quanto ao livro, concordo com você em relação ao posicionamento da mãe da Clarice ter influenciado, mas isso foi apenas uma das coisas circunstanciais que eu mencionei, o que apenas reitera o que penso: a quantidade de coisas que tiveram que funcionar de certa forma para que aquele final fosse possível, o que me deixou a impressão de um ar forçado, do tipo "final de livro inesperado, ainda que altamente improvável". Tanto o posicionamento inusitado da mãe da Clarice em aceitar algo suspeito como verdade absoluta, quanto o acidente, quanto o clichê da perda da memória, ainda deixando de lado a minha dúvida, que permanece, sobre a não possibilidade de especialistas distinguirem uma incisão feita cirurgicamente com um bisturi de uma acidental. Não sei, não me agradou =/ Mas já vale por ter gerado uma discussão, né? E claramente é um livro que diverge opiniões, principalmente em relação ao final. No saldo geral eu gostei, apesar de ter esperado mais da finalização.
      E quanto a sua dúvida, meu palpite é que a mãe da Clarice aceitou aquilo como verdade, o que me parece muito ingênuo da parte dela. Penso assim por algumas passagens que me deram a entender que, apesar do distanciamento entre as duas, a mãe se importava com a filha e queria o melhor para ela. Penso que foi justamente por causa de Clarice que ela preferiu encobrir a história. Para que não houvesse o risco dela ser presa ou mesmo tida como assassina.
      Abraços!

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    3. Duda, abertura ao diálogo foi, no final das contas, o que mais me agradou no livro, sabe? Como escrevi em algum ponto dos comentários, sinto que ele consegue lidar tanto com impressões positivas como as críticas. Senão por mais, por permitir, através dessa textura aberta, que a pergunta do 'e se…' seja sempre legitimada: 'e se ele quis, de fato, esse término abrupto?'; 'e se existe algo mais para ser alcançado nas entrelinhas? Como se fôssemos forçados a ver o último ato do livro como a memória frágil de Clarice permitiu que ela enxergasse seus anos antes de Téo'; 'e se a aposta de Raphael simplesmente não deu certo?'.
      Com certeza vale pela discussão!
      Abraço!

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