Do início de tudo

Em Pernambuco a gente acha que sabe muito de tudo. Ou, pelo menos, pouco de muita coisa. De um jeito ou de outro tem sempre muito em algum lugar. E diz que o carnaval é melhor pelas bandas do Capibaribe, que ninguém sabe o bom da vida até experimentar bolo de rolo, que chama 'mainha' e 'painho' porque assim fica mais perto do carinho. Mas, no fundo, a gente sabe é pouco de quase nada, só que traz sempre um bocadinho mais de aflição em defender o que encanta os olhos. E ai de quem falar mal de Ariano Suassuna, de quem quiser mudar nosso sotaque arrastado, de quem disser que achou um lugar mais bonito do que o Marco Zero pra pensar nas coisas da vida.
Eu sou daqui, nascido e criado com cheiro de mar. Carrego um sotaque desses que só falta tropeçar em si mesmo, mas não falo feito novela da Globo e, dos bairristas, devo ser um dos mais sossegados. Só não admito que falem mal de João Cabral (de Melo Neto). Isso nunca. Há limites para tudo na vida. Esse é o meu.


E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.
(João Cabral de Melo Neto - Morte e vida severina)


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